A desordem da informação
Desde 2017, quando o Dicionário Collins elegeu fake news a palavra do ano, o tema da desinformação ganha importância crescente na esfera pública. O dicionário define notícias falsas como "informações falsas, muitas vezes sensacionalistas, divulgadas sob o disfarce de notícias."
Veja mais na seção A desinformação na história.
Infográfico: A Trombeta de Amplificação, mostrando como mentiras deliberadas são produzidas e viralizadas na Web/ Claire Wardle - First Draft
A polarização de usuários brasileiros no Twitter
A intensidade entre as três cores — amarelo, representando usuários bolsonaristas, de direita, e vermelho representando movimentos de esquerda anti-bolsonaristas — reflete as ações de curtir e compartilhar conteúdo de natureza política apenas com usuários que tenham visões políticas similares. Tal tendência indica a ausência de interações com o pensamento contraditório ao dos usuários.
Monitoramento realizado em maio de 2019 pelo cientista de dados Fábio Malini, pesquisador do Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
O panorama atual da desinformação no Brasil
Lançada em agosto de 2020 pela plataforma de checagem Aos Fatos, a ferramenta Radar monitora, em tempo real, conteúdos digitais suspeitos, como os relacionados à Covid-19. A imagem abaixo reproduz o panorama da semana do dia 11 de agosto.
“
O surto das chamadas 'notícias falsas' é a combinação de duas coisas: a polarização da sociedade civil — e não apenas dos políticos e militantes — e as redes sociais. Nosso monitoramento revela que 12 milhões de usuários do Facebook estão polarizados, são vetores de informação, alvos de uma guerra política. E uma das dimensões desta guerra é o compartilhamento, seja para atacar o inimigo ou reforçar a posição do usuário.
Pablo Ortellado
(Cientista-político da USP e coordenador do Gpopai, em entrevista ao Manual da Credibilidade)
Segundo a dupla de pesquisadores Claire Wardle e Hossein Derakhshan, o termo "notícia falsa"
é inadequado para descrever o fenômeno da produção, difusão e consumo de uma gama variada de informações que podem ser comparadas à poluição.
Eles argumentam que o termo é ambíguo e simplista para dar conta tanto da natureza quanto da escala do problema, conforme o gráfico abaixo:
First Draft News
Reprodução Twitter
*Correção: Uma versão anterior deste gráfico identificava incorretamente este tipo de desinformação como Manipulação de Contexto. O erro foi percebido e imediatamente corrigido no dia 02/10/2019
Reprodução Wired.com
Reprodução Globo News
Fonte: Bruno Sartori/
Catraca Livre
Reprodução
Fonte: BBCBrasil
Foto: Reprodução Facebook
Fonte: First Draft News/
WTOE News
O fenômeno da desinformação abrange conteúdos de natureza muito diversa — desde sátiras e paródias noticiosas, feitas para ridicularizar os poderosos, mas que podem enganar o leitor – até algo totalmente fabricado de forma maliciosa, como a "notícia" de que o Papa Francisco teria declarado apoio ao então candidato Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
Outro problema relacionado ao termo "notícia falsa": os políticos passaram a usá-lo como uma arma contra a imprensa, quando reclamam de informações que não os agradam. O termo também tem sido usado como desculpa para combater a liberdade de expressão, conforme um artigo que Wardle e Derakhshan escreveram para o jornal The Guardian. Eles argumentam que o termo está se tornando um mecanismo pelo qual os poderosos podem reprimir, restringir e evitar a imprensa livre.
Sob encomenda do Conselho da Europa, recentemente Wardle e Derakhshan publicaram
o relatório Information Disorder – Toward an interdisciplinary framework for research and
policy making (Desordem da Informação – rumo a um quadro interdisciplinar de pesquisa
e formulação de políticas).
O trabalho analisa o fenômeno da desinformação em profundidade, desde
a definição de conceitos à formulação de recomendações.
Com a autorização do Conselho da Europa, o Manual da Credibilidade Jornalística
reproduz trechos do relatório:
Embora o impacto histórico dos rumores e do conteúdo fabricado seja bem documentado, Wardle e Derakhshan argumentam que estamos testemunhando algo novo: a poluição da informação a uma escala global.
Conselho da Europa/Reprodução
Marcello Casal Jr./Agência Brasil [Creative Commons 2.5]
Os autores comparam a desinformação à poluição.
Ilustração: reprodução de imagem do vídeo do projeto Compartilhe Verificado, da ONU
Conforme Wardle e Derakhshan, mais preocupantes são as implicações de longo prazo das campanhas de divulgação concebidas especificamente para semear a desconfiança e a confusão e aprofundar as divisões socioculturais existentes usando tensões nacionalistas, étnicas, raciais e religiosas.
A desinformação envolve uma rede complexa de motivações para criar, disseminar e consumir essas mensagens "poluídas"; uma profusão de tipos de conteúdo e técnicas para amplificá-lo; inúmeras plataformas hospedando e reproduzindo tal conteúdo e velocidades vertiginosas de comunicação entre colegas confiáveis (trusted peers).
Os impactos diretos e indiretos da poluição da informação são difíceis de quantificar. Estamos apenas em meio aos estágios iniciais de compreensão de suas implicações.
A infodemia da Covid-19
No primeiro semestre de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) cunhou o termo "infodemic" – ou infodemia, em português – para designar a "superabundância de informações, algumas precisas e outras não, o que torna difícil para as pessoas encontrarem fontes de informações e orientações confiáveis quando necessário."
No contexto da Covid-19, a infodemia representa um
sério problema de saúde pública, pois as pessoas
precisam guiar-se por informações confiáveis
– baseadas em evidências científicas, para
proteger-se a si próprias e às demais pessoas,
ajudando a mitigar o impacto da doença.
Ainda segundo a OMS, a infodemia relativa à Covid-19
abrange a produção de informações incorretas sobre
quatro temas principais:
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A causa e origem do vírus e da doença
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Sintomas e transmissão
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Tratamentos, profilaxias e curas disponíveis
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Eficácia e impacto das intervenções realizadas
por autoridades sanitárias e outras instituições
A atual infodemia já causou vítimas fatais, que acreditaram em rumores alardeando falsas prevenções ao vírus, como a ingestão de substâncias desinfetantes. Entre os que morreram por se guiarem por informações falsas incluem-se dezenas de cidadãos iranianos que beberam uma substância alcóolica tóxica por acreditarem que ela prevenisse o vírus.
A essas vítimas somam-se também pessoas que incorreram em comportamentos de risco – como a recusa em usar máscaras e manter o isolamento social – expondo a si próprias e os demais ao contágio da doença.
A fim de combater a produção e difusão de informações incorretas sobre a doença, a OMS promoveu sua primeira conferência sobre infodemia, reunindo especialistas em saúde pública, matemática e ciência de dados, comportamento, ética e comunicação a fim de desenvolver medidas e práticas para prevenir, detectar e responder a informações incorretas e à desinformação. A fim de esclarecer a população, a OMS publicou o folheto informativo Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a Covid-19.
No centro do combate à desinformação está o hábito do compartilhamento de conteúdos, sobretudo os não factualmente verificados. Ciente do problema, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o projeto Compartilhe Verificado, com informações qualificadas e recomendações para as pessoas se guiarem durante a pandemia.
No entanto, mais preocupantes são as implicações de longo prazo das campanhas de divulgação concebidas especificamente para semear a desconfiança e a confusão e aprofundar as divisões socioculturais existentes usando tensões nacionalistas, étnicas, raciais e religiosas.
Por onde começar a abordar a poluição da informação? Para enfrentar de forma eficaz os problemas de informações erradas, desinteressadas, é preciso trabalhar de forma conjunta nas seguintes frentes:
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Definições - Pensar mais criticamente sobre a linguagem que usamos a fim de entendermos efetivamente a complexidade do fenômeno
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Implicações para a democracia - Investigar adequadamente as implicações para a democracia quando informações on-line falsas ou enganosas circulam na rede
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Papel da televisão - Compreender o poder da mídia tradicional e, em particular, da televisão, na disseminação e ampliação de informações de baixa qualidade que se originam on-line
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Implicações da mídia local enfraquecida - Entender como o colapso do jornalismo local permitiu que a informação incorreta e a desinformação se estabeleçam e encontrar formas de apoiar o jornalismo local
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Micro-targeting - Discernir a escala e o impacto de campanhas que utilizam perfis demográficos e comportamento on-line para publicar informações falsas ou enganosas para públicos específicos
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Amplificação computacional - Investigar
a medida em que a influência é comprada através
de "astroturfing" digital — o uso de bots e ciborgues
para manipular o resultado de petições on-line,
alterar os resultados dos mecanismos de pesquisa
e aumentar certas mensagens nas mídias sociais
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Filtros bolha e câmaras de eco – Considerar as
implicações dos filtros bolha e câmaras de eco
que surgiram em decorrência da fragmentação
da mídia, tanto off-line (mediada através de
programas partidários no rádio e notícias a TV
cabo) e on-line (mediada por sites hiper-partidários,
alimentação derivada algoritmicamente em redes
sociais e comunidades radicais em plataformas
como WhatsApp, Reddit e 4chan)
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Queda da credibilidade em evidência –
Compreender as implicações de diferentes
comunidades não compartilharem um senso de
realidade baseado em fatos e conhecimentos
especializados. Em vez de empregar o termo
"notícias falsas" os autores introduzem um novo
quadro conceitual para examinar a desordem
da informação: usando as dimensões do dano
e da falsidade, descrevem as diferenças entre
esses três tipos de informação
Filtro bolha – Conceito desenvolvido pelo jornalista americano
Eli Pariser no livro Bubble Filter – How the new personalized Web
is changing what we read and how we think (Filtros bolha – Como
a nova Web personalizada está mudando a forma como lemos
e pensamos). Na obra, Pariser descreve um novo estado de
isolamento intelectual em que os usuários da internet tendem
a ter apenas contato com o conteúdo personalizado por
algoritmos. O resultado é uma experiência prazerosa, que
reforça visões de mundo pré-estabelecidas, a um só tempo
resultantes e re-alimentadoras do viés de confirmação
Câmaras de eco – espaços virtuais que fornecem o
compartilhamento de crenças comuns e visões de mundo, com baixo risco de questionamento ou divisões. Conforme Wardle e Derakhshan observam, não se trata de um tipo novo de comportamento. Mas as plataformas digitais capitalizam tais tendências humanas, sabendo que elas encorajam os usuários a passar mais tempo nesses sites
Reprodução
Bots – Aplicação de software concebido para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão, da mesma forma como faria um robô. Segundo o Oxford Internet Institute, um perfil de usuário que poste mais de 50 vezes por dia é frequentemente automatizado, operado por bots
Ciborgues – Contas de usuários que são operadas conjuntamente por software e humanos
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Informação incorreta (Mis-Information) – Quando informações falsas são compartilhadas, mas sem intenção de dano
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Des-informação – Quando informações falsas são conscientemente compartilhadas para causar danos
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Mal-informação – Quando informações genuínas são compartilhadas para causar danos, muitas vezes através da publicação de informações destinadas a permanecerem privadas
Os autores também argumentam ser preciso examinar separadamente os "elementos" (o agente, as mensagens e os intérpretes) da desordem da informação. No diagrama abaixo, as questões necessárias para a indicação de cada elemento:
E destacam a necessidade de se considerar as três diferentes "fases" (criação, produção e distribuição) da desordem da informação:
As recomendações de Claire Wardle e Hossein Derakhshan
O que as empresas de tecnologia poderiam fazer para combater a desinformação?
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Criar um conselho consultivo internacional
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Fornecer aos pesquisadores dados relacionados a iniciativas voltadas para melhorar o discurso público
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Fornecer critérios transparentes para quaisquer alterações algorítmicas que reduzam o ranqueamento de conteúdo
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Trabalhar colaborativamente
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Destacar detalhes contextuais e criar indicadores visuais para conteúdo
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Eliminar incentivos financeiros
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Reduzir a amplificação computacional
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Moderar adequadamente conteúdo em idiomas que não o inglês
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Prestar atenção às formas audiovisuais de informação incorreta e desinformação
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Fornecer metadados para parceiros confiáveis
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Criar ferramentas de checagem de notícias e de verificação
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Construir "mecanismos de autenticidade"
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Trabalhar em soluções específicas destinadas a minimizar o impacto dos filtros bolha:
a. permitir que os usuários personalizem algoritmos do feed de notícias e de busca
b. diversificar a exposição de conteúdo a diferentes pessoas e visualizações
c. permitir que os usuários consumam informações de forma privada
d. mudar a terminologia usada pelas redes sociais
O que os governos nacionais poderiam fazer?
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Encomendar pesquisas para mapear a desordem da informação
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Regular as redes publicitárias
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Exigir transparência em relação aos anúncios do Facebook
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Apoiar organizações públicas de mídia e de notícias locais
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Realizar treinamentos avançados de segurança cibernética
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Exigir a publicação de níveis mínimos de notícias de serviço público nas plataformas
O que as organizações de mídia poderiam fazer?
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Colaborar
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Concordar com as políticas de silêncio estratégico
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Assegurar padrões éticos fortes em todas as mídias
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Desmascarar fontes, bem como conteúdo
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Produzir mais segmentos e recursos de educação midiática
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Produzir reportagens sobre a escala e a ameaça representadas pela desordem da informação
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Concentrar-se em melhorar a qualidade das manchetes
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Não divulgar conteúdo fabricado
O que a sociedade civil poderia fazer?
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Educar o público sobre a ameaça da desordem da informação
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Agir como mediadores honestos
O que os ministérios da educação poderiam fazer?
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Trabalhar internacionalmente para criar um currículo padronizado de educação noticiosa
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Trabalhar com bibliotecas
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Atualizar os currículos das escolas de jornalismo
O que os órgãos de financiamento poderiam fazer?
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Fornecer suporte para testar soluções
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Apoiar soluções tecnológicas
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Apoiar programas que ensinem pessoas a fazer buscas de forma crítica e habilidades sobre informação
Reprodução
O "agente" que cria uma mensagem fabricada pode ser diferente do agente que produz essa mesma mensagem — que também pode ser diferente do "agente" que a distribui. Da mesma forma, é preciso uma compreensão completa sobre quem são esses agentes e o que os motiva.
Também é preciso entender os diferentes tipos de mensagens distribuídas pelos agentes, para que se possa começar a estimar a escala de cada uma e abordá-las. (O debate até agora tem sido esmagadoramente focado em sites de notícias de texto fabricados, quando o conteúdo visual é muito difundido e muito mais difícil de identificar e desmascarar).
Finalmente, é preciso examinar como as informações erradas e dissonantes são consumidas, interpretadas e utilizadas. Elas estão sendo re-compartilhadas como o agente original pretendia? Ou estão sendo compartilhadas novamente com uma mensagem de oposição anexada? Esses rumores continuam a viajar on-line, ou se deslocam para conversas pessoais, que são difíceis de capturar?
Um argumento chave no relatório de Wardle e Derakhshan se baseia no trabalho do estudioso James
Carey sobre a necessidade de se entender a função ritualística da comunicação. Os autores citam
o livro Communication as Culture – Essays on media and society (Comunicação Enquanto Cultura – Ensaios
sobre mídia e sociedade), de Carey.
Em vez de simplesmente pensar sobre a comunicação como transmissão de informação de uma
pessoa para outra, Carey argumenta que é preciso reconhecer que a comunicação desempenha
um papel fundamental na representação de crenças compartilhadas. Não é apenas informação,
mas drama — "um retrato das forças conflitantes do mundo".
O conteúdo problemático mais bem-sucedido é o que atua sobre as emoções das pessoas, estimulando sentimentos de superioridade, raiva ou medo. Isso porque esses fatores promovem o compartilhamento entre pessoas que desejam se conectar com suas comunidades e tribos digitais.
Quando a maioria das plataformas sociais são projetadas para que as pessoas "atuem" publicamente por meio de gostos, comentários ou compartilhamentos, é fácil entender por que o conteúdo emocional viaja tão rápida e amplamente, mesmo quando vemos uma explosão de agências de checagem, verificando e desmascarando organizações que se utilizam dos chamados filtros bolha e câmaras de eco.
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